Quando eu comecei a frequentá-lo, e a me familiarizar a ele, nunca imaginei que esse dia iria chegar. Já vi muitos dizerem que "o Olímpico é a minha segunda casa", mas nunca tive certeza se, ao falarem isso, tinham a intenção de realmente expressar o que tal afirmação significa.
Recentemente fui a Uruguaiana e vi a casa onde eu virei gente, e suas redondezas, totalmente alterada. A princípio tive uma sensação estranha, mas menos de um minuto depois de estar ali, naquela rua onde joguei bola de pés descalços no meio do barro, fiz guerra de bexiga, guerra de mamona e outras guerras inofensivas, onde aprendi com a minha avó materna a olhar de verdade pro céu, senti uma saudade agradável de um tempo que eu sei que vivi bem e passou. Espero que um dia eu consiga encarar o que está para acontecer da mesma maneira.
Afinal, o Olímpico talvez possa ser considerado mais a minha casa do que a que eu vivo atualmente, há mais ou menos 17 anos; frequento o meu templo há mais tempo do que isso. E digo templo tentando expressar tudo o que esse gigante de concreto realmente significa pra mim.
Quando ele vier abaixo, não vai ser um mero estádio que verei deixar de existir, ainda que um "mero estádio" quase sexagenário já signifique muito. Vai ser, literalmente, uma parte da minha vida que vai ruir, um porto seguro que sempre esteve ali para mim, que não vai mais estar.
O lugar em que aprendi a xingar, sem necessariamente querer o mal de alguém. Onde aprendi que é possível xingar a mãe de alguém, sem xingá-la. Onde aprendi o que era o "futebol de verdade", e que era possível, sim, ser o melhor sem ser o mais rico. Onde vi Danrlei, Dinho, Arce, Emerson, Jardel, Nildo Bigode, Argel (cenoura e mel), Roger, Paulo Nunes, Goiano (o Luiz Carlos), Adílson (o Capitão América II), Higuita, Rivaldo, Roberto Carlos, Marcelinho Carioca, Ariztizabal, Zé Roberto (lá e cá), Mazaropi (ainda que como treinador de goleiros), Scolari, Portaluppi e De León (ainda que como técnicos), e tantos outros nomes que nunca vou esquecer, por um motivo ou por outro. Onde vi o gol do Aílton, do Jardel, do Zé Alcino, do Luís Mário. Onde vivi algumas das maiores alegrias, assim como algumas enormes frustrações. Onde gritei até ficar sem voz por uma semana. Onde gritei sem conseguir abrir a boca. Onde criei laços mais fortes com um pai que eu pensava ser distante, mas não era. Onde descobri um segundo pai, quando eu nem sabia que isso era possível. Onde eu aprendi que mulher pode, sim, gostar e entender de futebol e, consequentemente, onde tive as minhas primeiras lições anti machismo. Onde aprendi a tomar uma cerveja e jogar conversa fora com a família, com amigos, com conhecidos, com moradores de rua, com o dono do bar, com um desconhecido qualquer. Onde reencontrei um baita amigo do colégio, que eu achava que tinha ficado no colégio. Onde aprendi a brigar por motivos imbecis, e, logo, a apanhar sem reclamar por saber ser merecido. Onde aprendi a brigar pelos meus e contra injustiças. Onde vi meros colegas de faculdade mostrarem-se verdadeiros amigos, embora um ou outro nem tão verdadeiro assim. Onde conheci melhor a guria mais especial de todas. Onde aprendi a descascar amendoim e ser crítico (ainda que às vezes até demais). Onde aprendi a acreditar até o último segundo, sem desistir. O lugar onde aprendi a ser forte de todas as maneiras possíveis, e que, de repente, não vai mais estar ali, a vinte minutos de uma caminhada em direção à zona sul.
Não passarei a amar menos o Grêmio por ele deixar de jogar no Olímpico. Qualquer pessoa que me conhece, sabe que é incabível considerar algo do tipo. A Arena é enorme, uma grande obra, vai ajudar o Grêmio de diferentes maneiras, e talvez até Porto Alegre e arredores. O ano que vem deve ser sensacional, e o Grêmio